«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

quinta-feira, 24 de maio de 2012


Leonardo da Vinci é um génio da pintura e não só, pois se manifestou genial em diversas áreas.
Os seus quadros têm motivado grande controvérsia. Mona Lisa estará no topo dos vários estudos e interpretações, seguindo-se A Ceia de Cristo (Código da Vinci - Dan Brow), mas São João Batista é também objecto de estudo e de interpretação. Houve muita polêmica sobre o significado da mão do santo apontando para cima, e o seu sorriso enigmático provocou muitas discussões. Enquanto o tronco tem uma certa solidez e força, o rosto e a expressão tem uma delicadeza e misteriosa suavidade/sensualidade, que contradizem a personalidade de São João, o intransigente e abstêmio pregador do deserto, como é descrito na Bíblia. Pode ser que ele tenha escolhido retratar São João no momento seguinte ao batismo de Cristo, quando o Espírito Santo desceu sobre Jesus na forma de uma pomba.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

PERSÉPOLIS



Chegou a Portugal a banda desenhada completa de PERSÉPOLIS, de Marjane Satrapi, lembrei-me da passagem e visionamento deste filme. Trata-se de uma autobiografia da autora: «história de uma infância e história de um regresso». Tem como pano de fundo as grandes mudanças políticas, sociais e culturais que conduziram o Irão ao isolamento internacional. Marjane diz na introdução: «desde a revolução islâmica, esta antiga e grandiosa civilização tem sido quase sempre associada ao fundamentalismo, ao fanatismo e ao terrorismo. Como iraniana que viveu mais de metade da sua vida no Irão, sei que esta imagem está muito longe da verdade. Acredito que uma nação inteira não deve ser julgada pelos crimes de uns quantos extremistas.»

Não Transformes as Tuas Convicções em Pedras


Quando as verdades são evidentes e absolutamente contraditórias, o que tens a fazer é mudar de linguagem. A lógica não serve para te ajudar a passares de um andar para o outro. Tu não prevês o recolhimento a partir das pedras. E, se falares do recolhimento com a linguagem das pedras, vais-te abaixo. Precisas de inventar essa palavra nova para dares conta de uma certa arquitectura das tuas pedras.
Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"

sexta-feira, 18 de maio de 2012

UM APÓLOGO (A agulha e a linha - Machado de Assis)


Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
 
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
 
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Machado de Assis

quinta-feira, 17 de maio de 2012

NUNCA FOI FÁCIL SER MULHER


SCHIELE
Violência, pior acesso a cuidados de saúde, casamentos forçados em idades jovens, discriminação relativa a heranças e à propriedade, exclusão do mercado de trabalho, continuam a ser factores de discriminação que atinge a mulher, segundo um estudo da OCDE.
África e América Central (Brasil oitavo lugar) estão no topo. Em África o problema é tal que a OCDE estima que o continente sofra uma perda de 61% no índice de desenvolvimento humano. Paralelamente há situações positivas, como por exemplo o Ruanda, onde mais de metade dos deputados são mulheres, a percentagem mais alta do mundo.

terça-feira, 15 de maio de 2012

POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS


Por Não Estarem Distraídos – Clarice Lispector

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que, por admiração, se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

BOB FOSSE


Robert Louis Fosse (Chicago em 23 de Junho de 1927  Washington em 23 de Setembro de 1987) foi um dançarino, coreógrafo e diretor americano.
Fosse desenvolveu um estilo de dança de Jazz que foi imediatamente reconhecido e caracterizado por seu ar sensual. Com a influência de Fred Astaire ele usou como acessórios chapéus côco, barras e cadeiras. Aclamado no teatro, onde foi várias vezes premiado, Bob Fosse ganhou também no cinema um Oscar em 1972 pelo filme "Cabaret", além de várias homenagens na TV pelo especial com a atriz e cantora Liza Minelli, "Liza com Z". Em 1986  coreografou, dirigiu e também escreveu o musical "Big deal". Fosse ganhou muitos prêmios por seus trabalhos. Seu musical "All that jazz" de 1979 ganhou a Palma de Ouro em Cannes e foi indicado para quatro Oscar. Esse filme foi uma autobiografia sem compromisso.
§  Cabaret (1972)
§  Liza with a Z (1972)
§  Lenny (1974)
§  The Little Prince (1974)
§  Star 80 (1983)

fonte: wikipedia

 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Forjando a Armadura - Rudolf Steiner


Nego submeter-me ao medo,
Que tira a alegria de minha liberdade,
Que não me deixa arriscar nada,
Que me torna pequeno e mesquinho,
Que me amarra,
Que não me deixa ser direto e franco,
Que me persegue,
Que ocupa negativamente a minha imaginação,
Que sempre pinta visões sombrias.
No entanto, não quero levantar barricadas por medo do medo.
Eu quero viver, não quero encerrar-me.
Não quero ser amigável por medo de ser sincero.
Quero pisar firme porque estou seguro.
E não porque encobri meu medo.
E quando me calo, quero fazê-lo por amor.
E não por temer as conseqüências de minhas palavras.
Não quero acreditar em algo só por medo de acreditar.
Não quero filosofar por medo de que algo possa atingir-me de perto.
Não quero dobrar-me só porque tenho medo de não ser amável.
Não quero impor algo aos outros, pelo medo de que possam impor algo a mim.
Por medo de errar não quero tornar-me inativo.
Não quero fugir de volta para o velho, o inaceitável, por medo de não me sentir seguro no novo.
Não quero fazer-me de importante porque tenho medo de que senão poderia ser ignorado.
Por convicção e amor quero fazer o que faço e deixar de fazer o que deixo de fazer.
Do medo quero arrancar o domínio e dá-lo ao amor.
E quero crer no reino que existe em mim