«Vocês sabem o que significa amar a humanidade? Significa apenas isto: estar satisfeito consigo mesmo. Quando alguém está satisfeito consigo mesmo, ama a humanidade. » Pirandello

domingo, 29 de janeiro de 2012

VIDA - ARTE EM MOVIMENTO

Sidonie Gabrielle Colette (28 de Janeiro de 1873 - 3 de Agosto de 1954) foi uma escritora francesa.
Nasceu numa aldeia de Borgonha e quando casou com o escritor e crítico Henri Gauthier-Villars mudou-se para Paris onde começou a escrever romances picantes. De jovem provinciana torna-se uma sofisticada parisiense.
Estuda representação e actua em espectáculos de music-hall, nessa altura já está divorciada e tem dois casos, com a escritora, Natalie Barney e a actriz Josefina Baker. Tanto actua no Moulin Rouge como publica ensaios e criticas no jornal Le Matin.
Volta a casar, com o jornalista, Henry de Jouvenal, tem um filha e escreve a sua obra mais conhecida «Chéri», assim como uma ópera com música de Maurice Ravel.
Por durante a I Guerra, transformar a sua casa num hospital é agraciada com a medalha de Cavaleiro da Legião de Honra.
Divorcia-se e volta a casar, com um homem mais novo, Goudeket Maurice, que por ser judeu esconde no sótão de sua casa durante a ocupação alemã de Paris e presta grande auxílio a muitos judeus.
Escreve, Gigi, que é considerada a sua obra prima. Quando morre tem um funeral de Estado.


Algumas citações de Colette, retiradas de: http://pt.wikiquote.org/wiki/Colette

"Até que é bom as crianças, ocasionalmente e com polidez, colocarem os pais no seu lugar".
“Nossos companheiros perfeitos nunca têm menos de quatro patas.”
 “É aconselhável aplicar o óleo refinado da cortesia para os mecanismos da amizade.”
“Se você está lidando com um animal ou uma criança, convencer é enfraquecer.”
“Nunca toque em uma asa de borboleta com seu dedo.”
“Eu amo o meu passado. Eu amo o meu presente. Eu não estou envergonhada do que eu tinha, e eu não estou triste pelo que eu não tenho mais.”
“Nós só fazemos as coisas que gostamos de fazer.”
“O verdadeiro viajante é ele quem vai a pé e, mesmo assim, ele senta-se grande parte do tempo.”
 “Para um poeta, o silêncio é uma resposta aceitável, até mesmo um elogio.”
 “Total ausência de humor torna a vida impossível.”
 “Você irá fazer coisas idiotas, mas irá fazê-las com entusiasmo.”

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

ESSES OBJECTOS QUE PARA UNS SÃO TÃO INDESPENSÁVEIS E SE TORNAM TÃO IRRITANTES!, QUANDO AS PESSOAS TÊM UM DÉFICE DE EDUCAÇÃO!

TELEMÓVEL PÁRA FILARMÓNICA DE NY




No concerto do passado dia 10, no Lincoln Center, de Nova Iorque, o maestro norte-americano Alan Gilbert mandou os músicos da Filarmónica residente pararem de tocar por causa do toque de um telemóvel. A orquestra tocava a 9ª. Sinfonia de Gustav Mahler e o maestro gritou para o público: «Já acabou?» Em ambiente de grande tensão, os 2.750 espectadores aplaudiram.

domingo, 22 de janeiro de 2012

A JUVENTUDE

A juventude não é um período da vida,
É um estado de espírito, um efeito da vontade,
Uma qualidade da imaginação, uma intensidade emotiva,
Uma vitória da coragem sobre a timidez,
Um gosto da aventura sobre o amor do conforto.

Não se torna velho por ter diversos anos:
Fica-se velho porque abandonou-se o ideal.
Os anos enrugam a pele; renunciar ao seu ideal enruga a alma.
As preocupações, as dúvidas, os temores e os desesperos
São os inimigos que, lentamente fazem com que nos inclinemos para a terra
Tornando-nos poeira antes da morte.

Jovem é o que se surpreende e maravilha
Pede como uma criança insatisfeita: E depois?
Desafia os acontecimentos e encontra
A alegria no jogo da vida.

São também jovens os que têm fé
E velhos os que têm dúvidas
Jovens os que têm confiança em si próprios.

Jovens os que têm esperança. Velhos os que andam abatidos.
Continuará a ser jovem o que é receptivo
Receptivo à beleza, ao que é bom  e grande
Receptivo à mensagem da natureza, do homem e do infinito.

Se um dia, o vosso coração for mordido pelo pessimismo
E corroído pelo cinismo
Que Deus tenha piedade da tua alma.
 
Samuel Ullman (1840-1024)


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

MAIOR PRAZER DAR QUE RECEBER

Uma das leis cómicas da vida é a seguinte: é amado não quem dá, mas quem exige. Quer dizer, é amado aquele que não ama, porque quem ama dá. E compreende-se: dar é um prazer mais inesquecível do que receber; a pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária, quer dizer que a amamos.
 Dar é uma paixão, quase um vício. A pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária.
 

Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'

sábado, 14 de janeiro de 2012

DOLORES IBÁRRURI – LA PASIONARIA

Dolores nasceu na aldeia de Gallarta, na província basca da Biscaia, em 1895, sítio dos operários de uma mina de ferro a céu aberto. Com o passar dos anos e continuação dos trabalhos de exploração do metal, a mina de Abanto y Ciérvana, virá a transformar-se num gigantesco buraco, o ponto de menor altitude de todo o País basco, atingindo vinte metros abaixo do nível do mar.
Desgastando grande parte dos seus dias no trabalho árduo e o que restava na taverna, à maioria dos operários apenas sobravam energias para, de uma maneira ou de outra, aceitarem o deu destino, numa Espanha imensa que tinha por hábito reprimir com as armas da Guarda Civil, qualquer tentativa de revolta popular. Muitas mulheres teriam um papel importante na dissuasão dos seus homens quanto a brigas com as forças de segurança, já que lhes seria insuportável a simples ideia de ficarem sem o marido ou sem um filho, ou terem de cuidar deles feridos ou estropiados e sem um salário, a somar ao trabalho de casa e às crianças pequenas.
Foi neste ambiente que cresceu aquela que viria a ser conhecia como a «Passionaria»: como a flor da paixão ou, num sentido não muito distante, aquela que se quer associar à Paixão de Cristo, na semana que antecede a Páscoa. Alguns críticos virão mais tarde tentar reduzir-lhe a estatura, alegando que a maior parte é mito, no entanto foi uma mulher de armas, uma das mais célebres e mais fotografadas durante a Guerra Civil de Espanha.
Isidora Ibárruri Gómez, filha de mineiro, é uma dos alguns filhos sobreviventes.  Foi marcada pela formação católica. Duas heranças cruzaram-se para produzir nela um efeito de cariz quase mitológico: a profissão de mineiro do pai e dos irmãos e o feitio combativo da mãe. Com um sentido grande de justiça, Dolores cresceu na consciência pura de uma sociedade assente em desigualdades sociais, com operários que se matam a trabalhar e uma minoria de famílias que enriquece à custa deles. «Sempre fui muito rebelde, desde pequenina. Diante da injustiça sempre reagi violentamente. Se a minha mãe me castigasse sem um motivo eu armava logo uma grande confusão.»
Dolores teve resultados brilhantes na escola, a tal ponto que a professora pediu aos pais que a deixassem seguir estudos, para ser professora primária, mas com a falta total de recursos, foi trabalhar em trabalhos domésticos. Apreendeu depois costura e dedicou parte do seu tempo aos livros e é a partir daí que obtêm a sua formação.
O seu pai está ao lado dos carlistas, movimento de apoio à linha de sucessão ao trono que descende de Carlos de Borbón, vencida no século XIX pelos descendentes de Fernando VII. Mais tarde, durante a Guerra Civil de Espanha, os carlistas estarão entre os conservadores, lutando ao lado da Falange, que apoia Franco. Mas por agora, são apenas uma frente de oposição ao regime instalado. O pai de Dolores por cansaço, começou a mandar a filha adolescente às reuniões, para que lhe traga as novidades. É assim que Dolores adquire uma escola de activismo político.
Com a sua lucidez argumentativa e o conhecimento de causa quanto à vida dos operários,  inscreveu-se em 1916, no Partido Comunista.  Aí conhece o líder comunista Julián Ruiz, com quem se casou.
Começou a escrever  no jornal «El MineroVizcaíno», inaugurando o pseudónimo «La Passionaria». A sua «persona» política constrói-se assim, com toda a sua experiência. Um dos traços da sua imagem de marca, está nas roupas pretas que veste, um eterno luto pelas sucessivas mortes de gente querida, incluindo a morte de três filhos, dos cinco que teve.
Esse luto com que se apresenta em público dá força às suas ideias humanistas e revolucionárias, acentua-lhes a gravidade dos discursos, nas reuniões que tem com os trabalhadores e dá-lhe fama de senhora abençoada por uma capacidade oratória extraordinária.
Em 1930 é eleita para o comité central e dois anos depois é nomeada para dirigir a comissão feminina do partido.
Separa-se do marido e vai para Madrid, onde começa a escrever para o jornal diário «Mundo Obrero». O mito está em plena construção, já ninguém desconhece esta mulher, de grande estatura física e portadora de mensagens autênticas de revolta.
A ditadura do general Primo de Rivera cai em 1931, na sequência da crise económica mundial, seguindo-se a queda da monarquia de Afonso XIII. A Espanha, agora republicana, tem de constituir um governo, e Dolores participa nas Cortes Constituintes como deputada do Partido Comunista das Astúrias.
Visita então Moscovo pela primeira vez, conhecendo pessoalmente Estaline, e em 1934 preside o primeiro congresso do Comité de Mulheres do Partido, seguindo-se um congresso idêntico internacional, em Paris. Ao longo destes anos de envolvimento crescente é detida diversas vezes, acusada de actividades subversivas que com frequência se convertem em agitação nas ruas.
O Verão de 1936 marca o início da Guerra Civil de Espanha. Unindo-se numa Frente Popular republicana, os movimentos de esquerda ganharam as eleições na Primavera. Mas os opositores de direita, que incluem a pesada estrutura militar, a Igreja, os monárquicos e os fascistas da Falange espanhola, são liderados pelo general Francisco Franco num golpe para derrubar o governo.



Na Catalunha e outras regiões do norte, forças populares armam-se como podem e vêm para a rua tentando conter o exército. Começam de ambos os lados as execuções sumárias, vindo a saldar-se, ao fim de três anos de lutas corpo a corpo, em mais de quatrocentos mil mortos. Ambas as partes serão apoiadas por forças internacionais. Ao lado da Frente Popular vêm combater intelectuais americanos e britânicos, como Eernest Hemingway e George Orwell. Como apoio aos fascistas há os bombardeamentos da força área alemã, que deixam um rasto de destruição nazi, como é o caso de Guernica.
Dolores continua a escrever, a discursar e a participar nas frentes de batalha. Transforma-se numa das figuras mais emblemáticas da guerra, vindo a ser considerada uma heroína. Datam desta altura os seus slogans: «Antes morrer de pé do que viver de joelhos». E sobretudo a palavra de ordem, sobre os fascistas, «No passarán». Apesar da ligação da estrutura da igreja à Falange, ela nunca abandonou a sua formação católica e defendeu religiosos e freiras em conventos, recusando a fúria anticlerical de alguns movimentos anarquistas. Intervém no sentido de transferir cidadãos espanhóis para a União Soviética, acabando por seguir ela mesmo esse caminho.
Uma agravada divisão interna da esquerda abre caminho à vitória das tropas de Franco, e o fascismo instala-se em Espanha, para durar. Do seu exílio de quase quarenta anos em Moscovo, Dolores é eleita secretária geral do Partido Comunista de Espanha em 1942, e em 1960 passa a ser sua presidente. Visita outros países comunistas e, com as sucessivas revelações do terror estalinista, ela será também alvo de duras críticas. Além das observações ideológicas, atiram-lhe também acusações de promiscuidade sexual, mas haverá sempre quem queira restaurar a sua memória de heroína do povo e de figura tutelar da esquerda durante a Guerra Civil.
 

Um ano após a morte de Franco, Dolores regressou a Espanha, com quase 81 anos e morreu nesse mesmo ano de pneumonia.
A mulher que será celebrada nas palavras certeiras de poetas como Rafael Alberti e Antono Machado, ainda que esquecidas as proezas durante a guerra e ainda que baralhadas as razões ideológicas com acusações múltiplas, ficará sempre, pelo menos, como inspiradora e actuante de alguns slogans poderosos. Como este: «Mais vale ser viúva de um herói do que esposa de um cobarde».


[C & H]

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

POEMA «THE HOLLOW MEN» de T.S. ELIOT

Poema que o Coronel Kurtz ( Marlon Brando) lêno filme APOCALIPSE NOW de Francis Ford Coppola

T. S .ELIOT (1888-1965)
OS HOMENS OCOS
 
Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dissecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada
Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;
Aqueles que atravessaram
De olhos rectos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.
II
Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frémito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.
Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo
- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular
III
Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão erectas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.
E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trémulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.
IV
Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos
Neste último sítio de encontros
Juntos tacteamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio
Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.
V
Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada
Entre a ideia
E a realidade
Entre o movimento
E a acção
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reacção
Tomba a Sombra
A vida é muito longa
Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino
Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o Reino
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.

(tradução: Ivan Junqueira)
http://www.culturapara.art.br/opoema/tseliot/tseliot.htm

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ANNE FRANK – UM TESTEMUNHO PARA SEMPRE




Tinha 15 anos e sonhava ser jornalista. Pela sua mão, milhões de pessoas em todo o mundo chocam-se com as atrocidades cometidas pelo nazismo. No seu diário, Anne Frank anotou os seus sonhos, de sucesso e de paz. Não chegou a ver cumprido nenhum deles.

Anne Frank, nasceu em Frankfurt am Main, na Alemanha em 1929. Em 1933 o Partido Socialista, anti-judaico, liderado por Hitler, subiu ao poder.
Os pais de Anne pressentido o perigo na Alemanha, mudam-se para Amesterdão. Anne Frank tem 4 anos e frequenta a escola Montessori. Até aos 11 anos cresce saudável e feliz no ambiente relativamente calmo da Holanda.
Aos 13 anos, os pais dão lhe de prenda um diário, o seu sonho era ser jornalista ou escritora. Na primeira página escreveu: «Espero ser capaz de te confidenciar tudo o que nunca consegui contar a ninguém e que tu possas ser o meu conforto e o meu apoio».
Em 1940, o exército alemão ocupa a Holanda, país que deixa de oferecer a segurança necessária.
Anne frequenta o Liceu Judaico de Amesterdão e anota no seu diário:«há uns dias enquanto passeávamos ao pé de casa, o pai disse que teríamos que nos esconder. Disse também, que ia ser muito difícil viverem, desligados do mundo». As deportações para os campos de «trabalho» haviam começado e sua irmã Margot, fazia já parte da lista dos procurados.
A partir dessa altura é no sótão de um dos armazéns do pai que partilham uma vida fechada e secreta com outra família judia. É o «anexo secreto». Das poucas coisas que Anne leva consigo é o pequeno diário forrado a xadrez. Dois meses depois escreve: «Que bom ter-te trazido comigo!»
Durante dois anos de clausura Anne regista o dia-a-dia daquelas famílias. Os seus textos são cartas a amigos imaginários com pequenos recortes colados, notas e comentários. O dia-a-dia no anexo, as notícias do mundo exterior escutado secretamente pala rádio, os bombardeamentos, as rusgas, os medos e angústias, mas também os sonhos e esperanças de qualquer adolescente ficam registados nas páginas secretas do seu diário.
Dói ler os últimos escritos de Anne, em Junho e Julho de 1944. Eles transbordam alegria e esperança com as notícias da chegada do dia D, que chegam através do rádio.
No dia 4 de Agosto, o anexo secreto é descoberto pela Grune Polizei.  Anne e os outros sete habitantes são presos.
Duas semanas antes de ser presa, Anne escreveu: «É impossível para mim construir a minha vida sobre o caos, o sofrimento e a morte. Vejo o mundo a transformar-se num meio selvagem, posso escutar o trovão que se aproxima e, um dia, irá destruir-nos a todos. Sinto o sofrimento de milhões de pessoas. E, no entanto, quando levanto os olhos para o céu, sinto que, de alguma forma, as coisas hão-se melhorar, que esta crueldade há-de acabar e que a paz e a tranquilidade voltarão.»
Toda a família é presa. Seguem-se viagens para os campos de concentração na Holanda, na Polónia e na Alemanha. Os residentes do anexo são transportados para Auschwitz.
Após um mês em Auschwitz, Anne e Margot são transportadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen. Ali milhares de pessoas morrem de fome e de doença todos os dias. Margot e Anne contraiem febre tifóide. Com poucos dias de diferença morrem, em Março de 1945.
Semanas depois o exército dos aliados entra na Alemanha. Nos campos nazis morreram mais de um milhão de crianças. O pai, Otto Frank foi o único membro que sobreviveu e a ele se deve a publicação do Diário de Anne Frank.

O Diário de Anne Frank, foi traduzido em mais de 60 línguas e é dos livros mais lidos em todo o mundo. Em 1960 as portas da casa de Anne em Amesterdão, abriram-se a um museu.

Entre as páginas amareladas do seu diário, pode ler-se: «Somos demasiado jovens para lidar com problemas destes, mas eles surgem-nos pela frente e obrigam-nos a procurar soluções, embora, a maior parte das vezes as soluções se desvaneçam perante os factos. São tempos difíceis, estes: ideais, sonhos e esperanças nascem no nosso interior, apenas para serem esmagados pela dura realidade. Admira-me que não tenha abandonado todos os meus ideais. Parecem tão absurdos e impraticáveis. E, no entanto, agarro-me a eles, porque ainda acredito, acima de tudo, que o ser humano é bom, no fundo.»


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

KATHARINE HEPBURN – WONDERFUL KATE


FUNDOU A IMAGEM DA MULHER INDEPENDENTE, LIVRE DOS ESTEREÓTIPOS DE FRAGILIDADE E SUBMISSÃO. EVITAVA ENTREVISTAS E AUTÓGRAFOS, AMOU UM HOMEM COM QUEM NÃO CASOU, GANHOU QUATRO ÓSCARES, UM RECORDE QUE AINDA LHE PERTENCE.

 
Katherine e os seus cinco irmãos foram educados no princípio calvinista de que só os sacrifícios conduzem aos êxitos, nada do que sonhamos ter nos virá parar ao regaço de mão beijada. Os pais ao mesmo tempo que os estimulam a dizer o que pensam e a discutir com argumentos lógicos, como numa espécie de comuna em que as crianças e os adultos, independentemente do sexo, têm direitos iguais, mostram no entanto que há dois líderes. Os mais novos não possuem ainda toda a consciência que lhes permitirá virem a ser cidadãos absolutamente responsáveis pelos seus atos. Assim, dão-lhes umas bofetadas e outras vezes escolhem uns banhos gelados para os chamar à razão. Kate dirá: «Esses banhos deram-me a impressão de que quanto mais amargo é o medicamento melhor faz à saúde.»
Este sentido da utilidade de certos tipos de sofrimento, mais ainda do que o próprio treino da resistência, dar-lhe-á uma força extraordinária. «Nem toda a gente tem a sorte de alguma vez ter percebido como é delicioso sofrer».
Katharine Houghton Hepburn, nasceu em 12 de Maio de 1907 em Hartford, Connecticut. Seu pai era descendente de uma pura linhagem escocesa e urologista de profissão, sua mãe era uma ativista pela igualdade de direitos para as mulheres (aos três anos Kate, já acompanhava a mãe).  Com os privilégios de classe alta da Nova Inglaterra, ela e os irmãos são educados entre tutores privados e escolas escolhidas a dedo. Rapazes e raparigas fazem todo o tipo de desportos. As raparigas espantavam a vizinhança pela liberdade de movimentos que lhes era dada pelos pais, livres-pensadores, nessa Nova Inglaterra do século XIX.
A desgraça caiu sobre a família, quando um dos seus irmãos, com dezasseis anos se enforcou e foi Kate quem o encontrou. A partir dessa altura com a trágica certeza que não há vida para além da morte, deixa de acreditar em Deus. «Acredito apenas que devemos fazer tudo o que podemos pelos outros».
Kate formou-se na Universidade da Pensilvânia em História e Filosofia e tinha grandes aptidões para o desporto. Dois dos seus irmãos serão escritores, outro médico e a irmã cientista. Kate quis ser atriz. O pai reagiu mal, considerando que isso era por vaidade, mas ela bateu-se até ao fim.
O início não foi fácil, começou pelo teatro como secundária.
Com a sua beleza natural, com as formas angulares realçadas por roupas pouco femininas, os seus cabelos arruivados e os seus olhos doces, tudo sublinhado por uma atitude de rapariga indomável que obviamente queria viver como um homem, mesmo assim não lhe faltaram pretendentes. Casou com o empresário Ludlow Ogden Smith, uma decisão que foi um desastre. Ela não tinha jeito para esposa e logo se separaram, embora ficassem amigos para toda a vida.
A sua visibilidade vem a ser reconhecida na peça, «The Worrier’s Husband e é contratada pela RKO, para o filme de Georges Cukor, «Vítimas do Divórcio» de 1932, com a lenda viva, John Barrymore, segue-se «Gloria de um Dia», que lhe deu o primeiro Oscar.
Depois teve uma série de fracassos e a sua reputação de arrogância e mau feitio, acabam por ser razões para o fim do contrato com a RKO, em 1937.
Kate não desarmou e vai trabalhar com o argumentista Philip Barry, numa peça de teatro na Broadway, que depois das boas críticas que teve, tornou-se no filme, «Um Casamento  Escandaloso», com Cary Grant e James Stewart e que teve doze nomeações para o Oscar.
Seguiu-se «As Quatro Irmãs» de Cukor, «As Duas Feras» de Hawks, «Sylvia Scarlett , um filme paradigmático, com o seu ar andrógino, mas com uma vibrante feminilidade.


 
No ano seguinte e depois de um assumido caso com o milionário, Howard Hughes, teve a primeira parceria no cinema com Spencer Tracy, tendo-se seguido mais oito. Juntos são o par mais famoso do cinema americano. Será uma das mais sérias relações amorosas e enquanto Spencer é uma pessoa reservada, Kate é um furação na sua vida. Ela gosta de o picar, faz-lhe frente nas questões mais ridículas, mas é a sua companheira fiel e será a sua enfermeira. Não vivem um sem o outro. Os amigos e colegas diziam: «Kate não admite que ninguém lhe diga o que fazer, mas de Spencer admite tudo».

 
Spencer é católico, embora separado, continua casado e tem dois filhos. Kate diz: «Os homens e as mulheres deviam viver em casa diferentes e visitarem-se de vez enquanto». Em diversos apontamentos biográficos surge a hipótese de serem bissexuais. No caso de Kate a questão põe-se, devido à relação de longa data, que tem com a sua amiga Laura Harding, herdeira do American Express, mas quando fala de amor só se refere a Spencer.
O público adora as discussões dos dois no filme, «A Costela de Adão» e o profissionalismo de ambos em, «Advinha quem vem jantar? (1967)». Durante as filmagens deste filme, já Kate não aceitava tantos papéis, para acompanhar Spencer , que sofre de congestão pulmonar. Este foi o seu último filme, morreu pouco depois de falha cardíaca. Kate viveu com Spencer durante 26 anos, mesmo assim não compareceu ao funeral, por respeito à mulher e aos filhos, assim como não recebeu pessoalmente o Oscar que ganhou pelo seu papel.
Depois dedicou-se mais à fruição da Natureza («O que conta é a vida!»), e ganhou mais dois prémios da academia, por «Leão no Inverno» (1968) e por «A Casa do Lago». 

 
Neste filme notam-se já os efeitos da doença de Parkinson, mas o brilho de Kate ainda é sublime. Neste filme contracena com Henry Fonda, que morre logo a seguir.
Em 1991, escreveu uma auto-biografia, «Me: Stories of My Life» e em 1994 brilha de novo em «O Amor da Minha Vida», é uma velha senhora que vive num local paradisíaco, que aparece na emanação de um romantismo primitivo, simultaneamente frágil, num físico minado pela doença, e forte, na energia que emana. Foi a sua última aparição no cinema, uma actriz que, como nenhuma outra, simboliza a mulher moderna.
Morreu em 2003 com 96 anos. Kate dizia: «Deve ser como um longo sono» ou «A morte? Deve ser um alívio, não teria de estar a dar-lhe uma entrevista».
Greta Garbo poderá ter sido a deusa distante, Marlene a mulher desejada, Katharine foi a grande «lady» do cinema.

Katherine tinha um espírito livre, foi uma mulher que sempre fez o que lhe apeteceu, independente dos homens, dos casamentos, das convivências da sociedade da época. Escreva-se o que se escrever, nunca se poderá dizer o que Katherine representou, como modelo de mulher livre, mas sobretudo como máxima criadora de um novo estilo de representação que permitiria ao cinema atingir os seus anos de ouro.

 
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